Cotidiano


Acordo todos os dias as 05:50 da manhã. Trabalho em uma região totalmente oposta de onde moro, portanto, passo bastante tempo dentro de transporte coletivos, ora ônibus, ora metrô. O ponto onde eu pego o ônibus, ele já vem transbordando gente de tão cheio que vem. É a lei do não chegar atrasado no serviço: espreme ou atrasa!

Depois de muitos pedidos de licença para poder entrar no ônibus, e de encontrar uma posição quase que do Kama Sutra, só é permitido respirar. E mesmo assim se mexer um centímetro, perdeu a posição antiga para outro passageiro. O melhor da viagem é o motorista. Ele não me conhece, assim como não deve conhecer quase nenhum passageiro, embora embarquemos sempre no mesmo horário. Mas todos os passageiros o conhecem, graça ao seu interesse por uma senhora que também vai espremida quase que sentada em seu colo. Nesse ambiente todo propício a paquera, Geraldo o motorista, vai tocando o ônibus e flertando como se fosse um rei em seu trono confortável.

E com todo aquela barulheira de motor de ônibus velho, vai gritando sua vida ruim para a senhora. Geraldo tem um Chevette 86 prateado, ele é o terceiro dono, tem até som de cd! Mora em uma casa de 5 cômodos que somente falta um “acabamentozinho” para ficar luxo. Faltam 3 prestações do Rack cor de tabaco da sala de sua casa, sem contar a TV 29” que terminou esse mês – ufa, já da pra comprar um jogo de pneus para o Chevette -. Geraldinho, apelido carinhoso que a senhora o chama, é conhecido em seu bairro como um grande pé de valsa. Segundo conta, só não dança essas musicas que a rapaziada de hoje em dia gosta, que para ele é de sexualidade duvidosa. A cada reduzida , ele busca um olhar da senhora pelo retrovisor. A cada dia é um convite diferente, na terça-feira iria fazer uma chouriço, a senhora ama! Na quarta iria levá-la em um samba que é uma maravilha, a cervejinha lá ele nem precisa de pagar se for no final de mês , porque lá ele está em casa. E nesse ritmo sigo para o serviço todos os dias. Ainda não sabemos se Geraldinho conseguiu sair com a senhora, porém confesso que também nunca há vi pagar passagem.

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